segunda-feira, 23 de abril de 2012

A Viscondessa de Azevedo

A Viscondessa de Azevedo era, naturalmente, a esposa do Visconde de Azevedo. E diz-se visconde e viscondessa, mas podia-se dizer conde e condessa, pois acabaram por ser elevados ao condado alguns meses antes de ele morrer.
Esta senhora nasceu a 6 de Agosto de 1804, aqui na Póvoa de Varzim. Era filha de José Carneiro da Grã-Magriço e de D. Francisca Henriqueta Coelho Fiúza Ferreira Marinho Falcão Sottomayor. Os pais eram gente com posses: fora o avô que reconstruíra a sua casa – aquela em que está o Museu – para o edifício que todos conhecemos.
A viscondessa porém ficou órfã de pai com ano e meio. Ele faleceu em Balasar, em 1806, certamente muito jovem. O assento de óbito tem algumas observações que merecem leitura. “Faleceu só com o sacramento da Penitência, administrado sub conditione, e Extrema-Unção, porque os cirurgiões lhe afirmaram a saúde, e a morte veio rápida, sem se esperar”. Pouco antes, o pároco convidara-o para os sacramentos, mas ele repondera “que ainda não estava nesses termos”.
“Foi sepultado dentro da Igreja, na sepultura imediata ao altar da Senhora das Dores”, acrescentou o pároco.
Deveria andar ainda nos vinte anos: não esperava acabar tão rápido!
Desconheço a data do falecimento de D. Francisca, a mãe da Viscondessa, que também foi sepultada em Balasar. De facto, há uma falha nos livros dos assentos de óbito desta freguesia e por isso não possuímos essa informação sobre muitas pessoas de lá. Mas era ainda viva em 1845, por exemplo.
É de crer que a viscondessa tivesse sido uma jovem muito atraente. De facto, entre os bens da sua fortuna e os do marido havia uma grande diferença, favorável a ele; os pergaminhos de nobreza do marido eram muito, muito mais impressionantes que os dela; e ele até era um pouco mais novo.
Casaram numa daquelas décadas terríveis da primeira metade do século XIX, em 1827. Quando ainda contaria por meses o tempo do seu casamento, foi servir nas fileiras de D. Miguel, o que há-de ter causado as maiores apreensões à sua jovem esposa.
Se a informação biográfica sobre o visconde não é muito abundante, a informação sobre a viscondessa ainda o é menos.
Há um documento de 21 de Agosto de 1830 assinado pelo casal que começa assim:
Francisco Lopes de Azevedo Velho da Fonseca de Barbosa Pinheiro Pereira de Sousa, Moço Fidalgo da Casa Real, Senhor de Azevedo e dos coutos de Mazarefes e Paradela, com minha mulher, D. Maria José Carneiro da Grã-Magriço, Senhora da Quinta e Prazo de Balasar, actualmente assistentes na nossa casa solar de Azevedo, etc.
Este importante solar de Azevedo fica na freguesia barcelense de Lama.
A Viscondessa faleceu com 81 anos, em 3 de Janeiro de 1886, no Porto, de uma “apoplexia fulminante”. Escreveu-se na altura que ela tinha um porte aprumado e vigoroso e que era senhora duma organização física “forte e enérgica, que parecia zombar dos anos”.
No testamento dispôs que o seu corpo fosse “envolvido em hábito de Santa Teresa (de Ávila), encerrado em caixão de chumbo e sepultado no jazigo da família que tem na freguesia de Balasar, deste concelho, onde repousam os restos mortais de sua mãe”.
Contrariamente ao seu desejo, D. Maria José Carneiro da Grã-Magriço não foi sepultada em Balasar, antes em Barcelos, “por a autoridade administrativa do Porto se opor a que fosse para Balasar, conforme era vontade da testadora”.
Entre as numerosas disposições do seu testamento, salientamos algumas: quis que o seu corpo fosse conduzido da sua residência para a igreja por quatro pobres, a cada um dos quais se daria significativa esmola. Não quis pompa nem música (certamente marcha fúnebre); e acrescentou: “igual ao do meu marido”. À Santa Casa da Misericórdia do Porto deixou um legado enorme, de 17 contos; à de Vila Nova de Famalicão, um mais modesto de 2 contos e meio. Mas beneficiou muitas outras instituições e pessoas singulares, várias da Póvoa e até os pobres de Balasar.
Esta freguesia, a quem ela, nas visitas à sua casa, ao túmulo dos pais, muitas vezes há-de ter espantado com as suas carruagens, criadagem e diversos equipamentos citadinos, tem para com ela uma dívida que a toponímia deveria saldar.

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