As Fontainhas são um lugar de Balasar que se destaca pelo aspecto urbano e moderno dos seus edifícios e pela expressiva presença de serviços: agências bancárias, postos de abastecimento de combustível, farmácia, cafés, etc. Mas não foi sempre assim. De facto as Fontainhas são um lugar recente. Foi a estação do caminho-de-ferro, criada em 1877, que deu o empurrão para que aquele ignorado lugar chegasse ao que chegou.
Que eram as Fontainhas até então?
Cruzavam-se ali duas estradas, ou antes, dois caminhos, um que ia dos lados de Barcelos para os do Porto, e vice-versa, outro que vinha dos lados de Famalicão para Rates e Vila do Conde. Coisa não muito significativa.
Tratava-se de um espaço não habitado. De facto, os assentos paroquiais não dão conta de que houvesse aí moradores, o que é confirmado pelos dois tombos da Comenda de Balasar. Estes documentos falam de uma venda, a venda do Torrão em 1608 e a venda do Feiticeiro em 1830. Mas a venda poderia ficar em terreno de Macieira de Rates, onde há o campo do Feiticeiro.
Se recuarmos, encontramos menção do lugar em documentos medievais, mas como realidade bastante vaga. Curiosamente, chamam-lhe Fontainha. A forma do plural será talvez devida a um erro da companhia do caminho-de-ferro, pois nunca tinha aparecido antes. Antes só ocorria a forma do singular.
Como já disse, a estação do caminho-de-ferro é que relançou o lugar. Mas uns dez ou vinte anos atrás, tinha sido aberta a estrada de Portas Fronhas para Guimarães, a Estrada Real n.º 31, como se lhe chamava. Sem ela, a estação do caminho-de-ferro não levaria o lugar aonde levou.
No final do caderno que em 1886 regista os eleitores de Balasar, documenta-se um gesto que se pode considerar simbólico: Manuel de Antas, chefe da estação das Fontainhas, reclama a inclusão do seu nome na lista. Era um lugar novo a exigir ser visto e ouvido, a mostrar que existia.
Nos cadernos seguintes, assinalam-se lá um vendeiro e um ferreiro. Mas a venda não era a do Torrão nem a do Feiticeiro, pois não ficava no limite da freguesia.
Em 1904, vem para chefe da estação das Fontainhas um homem muito culto e criativo, o Chefe Sá. Fundou um grupo cénico, uma tuna, um clube de tiro, promoveu a criação duma feira, etc. Elevou alto o nome do lugar, atraiu para ele as atenções. A tuna chegou a actuar em Famalicão, Guimarães, Amarante, etc., a feira chegou a chamar ali milhares de pessoas nos dias de feira grande.
Um genro do Chefe Sá deu também valioso contributo para engrandecer as Fontainhas; foi o Sr. José António de Sousa Ferreira. Iniciou aí a indústria e chegou a ser vereador. Se o sogro tinha sido mais artista, ele foi mais prático.
Das pequenas indústrias das Fontainhas ficaram célebres a Fábrica da Cal e uma Serração e Moagem. Para terminar por hoje, vou ler uns versos da “Descrição do Passeio Anual dos Empregados da Fábrica de Serração e Moagem de Fontainhas”, texto impresso. Devia-se estar nos anos quarenta. O passeio foi por Espinho, Aveiro, Batalha e Lisboa; no regresso veio-se por Leiria e Fátima. O versificador, a quem chamavam Celestino Miúdo, sabia pouco da sua arte, pois bastantes versos são mancos, pois não têm o número completo das sílabas; mas veja-se a chegada à capital:
Tudo ia satisfeito,
A viagem muito boa;
Às dez horas da noite,
Demos entrada em Lisboa.
Foi uma alegria
P’ra quem nunca tinha visto.
Só se ouvia perguntar:
“Ó paz, o que é isto?"
No regresso a Balasar, o autor faz esta divertida avaliação da viagem:
Todos vinham satisfeitos,
Na melhor harmonia;
Cantavam e dançavam
Com a maior alegria.
Mil e tal quilómetros
Andou a caravana.
O que mais me admira,
Ninguém tomar a carraspana.
Ninguém tomou a carraspana, todos vinham satisfeitos, acabou bem, foi bom. E eu termino aqui.
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