sexta-feira, 13 de maio de 2011

No mês de Nossa Senhora

Encontramo-nos em Maio, o mês de Nossa Senhora. É dela que eu vou falar. E vou começar com um pequeno poema do P.e António Martins de Faria, o tal que foi pároco de Balasar e depois de Beiriz, que foi arcipreste e publicou dois livros de poemas. Tem por título uma invocação da ladainha em latim, mas também em português: Mater Purissima, isto é, Mãe Puríssima. Diz assim nas suas quadras de sete sílabas:


Se à Virgem, Mãe da Pureza,
Querem dar provas de amor,
Dê-lhe o céu o seu fulgor
E a terra sua beleza.

Dê-lhe o sol seus arrebóis
E as suas per’las o mar;
Dê-lhe a lua o seu luar
E o seu canto os rouxinóis.

Dê-lhe a fonte os seus cristais
E as suas flor’s o vergel;
Dê-lhe a colmeia seu mel
E seu perfume os rosais.

Dê-lhe o poeta canções;
Dê-lhe quadros o pintor;
E vós, almas do Senhor,
Dai-lhe os vossos… Corações.


É um poema pequeno, muito elogioso, muito poético, com algumas palavras muito do gosto do tempo, como arrebóis e vergel, que significam, amanhecer e pomar, jardim.
No dia-a-dia, a gente fala de Nossa Senhora de Fátima, das Dores, da Assunção, da Conceição, de Lourdes, da Saúde, das Neves, da Guia, das Graças, da Boa Viagem, de Guadalupe, de la Salette… Qual será o título mais importante de Nossa Senhora? Um dia fizeram-me essa pergunta e eu respondi: “Santa Maria, Mãe de Deus”. Terei respondido bem? Creio que sim.
Entre os títulos com que se fala de Nossa Senhora, uns apontam para predicados seus, Imaculada Conceição, Assunção, Mãe de Deus, por exemplo; Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora do Ó ou da Expectação, que referem momentos da sua vida. Fátima, Sameiro, Lurdes, Aparecida, etc., são apenas locais onde Ela merece, por diversas razões históricas, uma devoção especial.
Mas tudo vem ter à sua maternidade divina. Ela é a Imaculada, porque ia ser a morada do Filho de Deus, é a Senhora da Assunção, porque foi a Imaculada, é a Senhora das Graças, porque é a Mãe de Deus… Porque era a Imaculada, o seu corpo não foi sujeito à corrupção.
Na Ladainha de Nossa Senhora, há uma série de invocações particularmente poéticas; vejam-se algumas: Espelho da justiça, Sede da sabedoria, Causa da nossa alegria, Vaso espiritual (…), Rosa mística, Torre de David, Torre de marfim, Casa de ouro, Arca da aliança, Porta do céu, Estrela da manhã, etc. De algumas destas invocações, que têm origem no Antigo Testamento, o católico comum nem alcança bem o sentido.
Paga a pena dar uma olhadela ao lugar da Mãe de Deus no Evangelho, em especial no de S. Lucas e de S. João.
Por altura de assumir a maternidade do Filho de Deus, Nossa Senhora teria cerca de 15 anos, o que era comum então para o casamento. Sendo assim, ao tempo da crucifixão do Seu Filho teria 48. Nesse momento, Jesus entrega-a aos cuidados de S. João.  A sua vida terrena pode ter-se prolongado ainda por uma ou duas dezenas de anos. Isto é, ao menos até aos 60 anos.
Como terá sido a sua vida após a Ressurreição de Jesus? Ela só é mencionada uma vez nos Actos dos Apóstolos. Depois sabe-se que esteve em Éfeso, no extremo ocidental da Turquia, certamente em razão de perseguições.
No Evangelho de S. João, Jesus valoriza a contemplação em relação à acção. A Nossa Senhora caberia um papel discreto – mas importante – de contemplativa. Vibraria com a vida das primeiras comunidades, com as suas dificuldades, com as perseguições, que Lhe lembrariam o sofrimento do seu Filho e o seu.
A gente nem imagina bem isso, mas Nossa Senhora sem dúvida também comungava como as outras pessoas. Então sentir-se-ia numa união inteiramente particular com o seu Deus, que era também seu Filho. Verdadeiramente, porque o acolheu no seu seio de jovem, Ela é que O dava e dá sempre a quem O comunga.
Eu tenho pena de não saber certos cantos litúrgicos actuais, muito bonitos, sobre Nossa Senhora; se os soubesse, leria um a terminar. Assim, deixo ao ouvinte o cuidado de os recordar.

Sem comentários: