domingo, 1 de maio de 2011

Ele ressuscitou!



Como estamos a pouco tempo da Páscoa, vou falar hoje da Ressurreição de Jesus.
Quem primeiro a ela se refere de um modo algo desenvolvido não são os Evangelhos, mas a Primeira Carta de S. Paulo aos Coríntios, escrita nos anos 50, a cerca de 20 do acontecimento; mas o apóstolo remete para um testemunho muito anterior, certamente de S. Pedro. Ouçamos as frases dele:
Em primeiro lugar, transmiti-vos aquilo que eu próprio tinha recebido:
Cristo morreu pelos nossos pecados, conforme o que está na Sagrada Escritura.
Foi sepultado e, no terceiro dia, ressuscitou, como também está na Sagrada Escritura.
Apareceu a Pedro e, a seguir, ao grupo dos doze. Apareceu depois a mais de quinhentos irmãos de uma só vez. A maior parte deles ainda vive, mas alguns já morreram. Apareceu depois a Tiago e, em seguida, a todos os apóstolos.
Em último lugar, apareceu-me também a mim, que sou quase como um aborto (…) 1Coríntios 15:3-8
Quando o apóstolo afirma transmiti-vos aquilo que eu próprio tinha recebido, entende-se que o tinha recebido certamente de Pedro (que conheceu, e poucos mais conheceu dos apóstolos que tinham acompanhado Jesus).
É muito importante que Jesus tenha morrido e ressuscitado, conforme o que está na Sagrada Escritura, como ensina S. Paulo. Ele morreu e ressuscitou para dar cumprimento ao que estava anunciado desde a queda dos primeiros pais, Adão e Eva, passando por Abraão, Moisés, os Profetas e pelos Salmos. Esse não foi o caso de Lázaro, por exemplo. Jesus tinha uma missão a realizar e cumpriu-a.
S. Paulo, nas suas cartas, não relata passos biográficos de Jesus nem as suas palavras. Creio que a ele quase lhe bastava que Jesus tivesse nascido, morrido e ressuscitado para dar cumprimento às Escrituras. Era como se lhe fosse suficiente conhecê-las para avaliar todo o sentido da missão Cristo. O único pormenor que relata é a instituição da Eucaristia.
Repare-se agora na lista das aparições:
Apareceu a Pedro e, a seguir, ao grupo dos doze.
Apareceu depois a mais de quinhentos irmãos de uma só vez. A maior parte deles ainda vive, mas alguns já morreram.
Apareceu depois a Tiago e, em seguida, a todos os apóstolos.
Em último lugar, apareceu-me também a mim, que sou quase como um aborto (…)
Não há referência às senhoras a quem Jesus apareceu em primeiro lugar, segundo os Evangelhos de S. Lucas e de S. João. Aqui o que importava era o testemunho oficial sobre o facto e não pormenores históricos – certamente importantes de outros pontos de vista.
Os artistas ao longo dos tempos deixaram quadros sobre a Ressurreição, mas na verdade ninguém assistiu a ela. Ninguém presenciou esse espectáculo, que nem seria presenciável sem a intervenção divina, caso contrário, quando ele aparecia, seria, suponhamos, à parte o ruído, como um helicóptero de hoje, que toda a gente observa se pousar na vizinhança.
Os apóstolos estavam escondidos e foi a eles que Jesus apareceu, antes de aparecer aos 500 irmãos….
Mas jamais alguém encontrou o seu Corpo… a não ser algum romancista muito serôdio e criativo.
Na Relíquia, Eça nega a Ressurreição; parece-me que o faz de resto sem nenhuma criatividade, apenas decalcando um escritor francês. Conta ele – na sequência do seu inspirador – que a exaltada Madalena, apreciação do romancista, ao não ver o cadáver no túmulo, gritou que Ele tinha ressuscitado e que daí para diante os apóstolos e todos os seus amigos repetiram a afirmação. E assim, da exaltação duma histérica, teria nascido uma religião.
Mas não foi como Eça escreveu: foi só perante a evidência dos factos – as aparições – que a certeza se lhes entranhou e a tal ponto que nem ameaças, nem prisões, nem outros castigos, nem por fim o martírio os fizeram alguma vez duvidar.
O Visconde de Azevedo, no prefácio de A Divindade de Jesus, refuta a posição que Eça havia de defender. Não sei o que diz Saramago sobre o caso, e se calhar nunca o saberei.
Vários escritores do séc. XIX e posteriores deram-se a inventar banalidades sobre a Ressurreição que muitos leitores leram sofregamente, sem crítica, como se de verdades se tratasse.

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