Como estamos em dia do aniversário do
nascimento da Beata Alexandrina, vou hoje falar dela e a propósito dela.
Verdadeiramente quem me recordou esta
data foi o último número do boletim da Alexandrina Society, que recebi há dias.
Como é seu costume, a associação promove 24 horas ininterruptas de adoração
eucarística entre os dias 29 e 30. Penso que o convite para essa adoração foi a
razão principal para fazerem sair o boletim. A iniciativa é a mais consentânea
com o espírito da vida e obra da patrona da associação.
No boletim vinha uma notícia que interessa
muito aos membros da Alexandrina Society, embora para nós o seu interesse seja
menor: a viúva do fundador, que era do país de Gales e fora para a Irlanda
quando casou, vai regressar à terra natal, deixando assim o secretariado. Fica
a substituí-la uma tal Úrsula Coppinger, que se mostra muito determinada em
prosseguir com a divulgação da Alexandrina.
Embora a publicação não apresente
endereço de correio electrónico, o que é pena, apresenta ao cimo da página
inicial o endereço dum site, o Balasar.net. Este site foi criado por um filho
do fundador, o Patrick Reynolds.
Recebi recentemente o último livro da D.
Eugénia Signorile também sobre a Beata Alexandrina. Talvez seja o vigésimo, o
que faz dela e do seu falecido marido um especialíssimo caso de devoção e
divulgação da Beata de Balasar. O livro tem pelo menos duas visíveis virtudes:
é pequeno e o seu visual é cuidado. De base biográfica, procura evidenciar o
carácter de alma vítima da Alexandrina.
Logo no princípio, atribui-se à biografada
uma característica que a singulariza entre os santos que a Igreja beatificou ou
canonizou: o seu nascimento foi pré-anunciado pela Santa Cruz, aparecida em Balasar
em 1832.
E agora é da Santa Cruz que vou falar um
pouco.
Primeiro que tudo, convém saber-se que
sua aparição está garantida por documento fidedigno e que ocorreu duas semanas
após o desembarque do Mindelo, que levaria à vitória dos liberais. Esta vitória
teve consequências devastadoras para a Igreja. Implicou muito mais do que a
extinção das ordens religiosas: D. Pedro IV, o irmão de D. Miguel, era maçónico
e, ainda antes de vir para Portugal, ameaçou o Papa de lançar o país no cisma.
E com a vitória, os liberais cumpriram a ameaça do seu rei entretanto falecido.
Eu tenho andado a tentar vislumbrar o
que se passou por cá após Évora-Monte e parece-me que correspondeu ao eclodir
duma violenta tempestade.
Colocado à frente da Diocese de Braga um
agente dos liberais, o vigário capitular Loureiro, procedeu-se ao saneamento
dos párocos opositores ao cisma. Não importavam muito as razões a invocar,
sobretudo se se tratasse de paróquias com bastante rendimento.
E há um aspecto original nesta situação,
os autores do cisma, que eram os liberais fanáticos, acusavam de cismáticos os
sacerdotes ou até populares que recusassem o seu cisma. E nesta guerra de
confusão de sentido da palavra, entravam agentes do governo e certamente
câmaras.
No concelho da Póvoa, alargado a partir
de 1837 para fronteiras próximas das actuais, houve duas freguesias que ousaram
oferecer mais resistência ao cisma, Terroso e Rates. Pelo menos é o que se pode
deduzir de alguns documentos de 1838.
Os terrosenses parecem ter levado a sua
oposição até passar por cima das posições do pároco, que colaborava com o
governo: terão chegado a baptizar crianças em casa. Em Rates, o pároco foi
expulso logo no princípio de 1838, mas os ratenses não se deram por vencidos e
continuaram a resistir. Veio, certamente do Porto, uma força militar, que
começou por pacificar Terroso e que depois foi para Rates. Mas os moradores da
freguesia, talvez também melindrados por lhes terem extinguido o concelho, não pararam.
E foram ameaçados com a vinda duma força ainda maior. Não foi com certeza por
acaso que, ao tempo da Maria da Fonte, eles se recusaram a entregar as armas de
fogo…
As pessoas, que acorriam em tão grande
número às festas da Santa Cruz, devem ter percebido que ela trazia uma mensagem
de esperança no meio da tempestade que tudo queria derrubar.
Sem comentários:
Enviar um comentário