sábado, 11 de maio de 2013

O Museu de Rates


Recentemente visitei o museu de Rates: foi para mim uma bela surpresa. Não me informei muito sobre as peças, relativamente poucas, que estão em exposição, o que talvez ainda tente fazer um dia. Mas o que não há dúvida é que nos mergulham num mundo muito antigo, não raro mais antigo que a própria igreja românica.
Não sei o que os entendidos dizem sobre uma rude estátua de bispo que lá se expõe, mas ela poderia ter originado a lenda de S. Pedro de Rates. Coisa muito antiga, primitiva e expressiva! Ninguém duvida de que se trata dum prelado. É claro que a lenda nem é muito antiga, pois pode vir só do século XVI, quando aquela estátua já tinha 500 anos!
Se a gente se espanta a olhar para a estátua do bispo, outro tanto acontece frente à estátua dum rei: espada ao alto, coroa na cabeça, uma veste em túnica a chegar aos pés. Como surgiu ali, que sentido lá faz?
Houve ali perto uma pousa real…
Na igreja é abundante a iconografia, o que era comum no tempo. Quem fez umas esculturas pode ter feito as outras.
Nas traseiras da igreja há aquela colecção de arcas funerárias. Devem remeter também para os primeiros tempos do mosteiro. Trabalho igualmente primitivo.
Há-as também em Rio Mau, mas menos.
No museu encanta-nos ainda uma estela romana, escultura lá para mil anos mais antiga que as estátuas do bispo e do rei. É uma peça alta, bastante trabalhada, que uma utilização posterior não terá mutilado muito. É sobretudo um eloquente testemunho do invasor romano e da sua requintada civilização.
Também muito antiga é a custódia paroquial local – não exposta no museu -, de quando já o mosteiro fora extinto. Mas é também um testemunho da religiosidade da comunidade ratense. Ali ao lado, em Balasar, há uma cruz processional do mesmo século.
No mesmo dia em que visitei o museu de Rates, fui de novo ver o intrigante marco que assinala o ponto de encontro das freguesias de Rates, Balasar e Arcos, a Pedra Negra de outros tempos. Chamaram-lhe assim em 1258, nas inquirições, mas devia ser designação milenar. Em 1542, quando o pároco balasarense mandou renovar o tombo, era a Pedra do Couto.
O facto de ter a face principal voltada para o lado de onde nasce o sol pode apenas ter a ver com a sua função original. Realmente, deve tratar-se de um menir e vir portanto do tempo das mamoas que existiram nos limites de Balasar com Macieira e com S. Marinha de Vicente, isto é, de cerca de 2000 antes de Cristo. A parte superior tem algum carácter antropomórfico.
A palavra menir tem em português como sinónimo a palavra pedrafita ou perafita. Ora, a nascente de Balasar, houve S. Veríssimo de Pedrafita.
Há razões para crer que a Pedra Negra teve um papel histórico notável, já em tempo dos romanos e depois ao tempo dos visigodos. Não era por acaso que o Arcediagado de Vermoim terminava em Guardinhas... era com certeza por causa da Pedra Negra. Isto está documentado cerca do ano 1090.
À partida, parece que o adjectivo negra, de Pedra Negra, pode ter origem em qualquer aspecto de religiosidade primitiva ou rito mágico. Não é de excluir porém que aponte para uma classificação geológica rudimentar: houve nas proximidades mais pedras negras e ainda hoje se conhecem seixos brancos. Estes são grandes pedregulhos brancos, dizem-nos que de quartzo. Conhecemos um de várias toneladas e outros menores.
Em 1258, ao delimitar o reguengo de Agistrim (Gestrins), depois de falar da Pedra Negra, faz-se menção também da Pedra Curveira. Esta ficava onde se encontram Balasar, Macieira de Rates e Negreiros. O mais provável é que estas pedras pré-existissem à criação das freguesias. Numa data que não deve estar longe de 1225, houve uma contenda entre os nobres que possuíam terras em Macieira e os homens do reguengo de Agistrim. Quando se reuniam para tentar entendimento, faziam-no junto à Pedra Curveira. A Pedra Negra, a Pedra Curveira, como certamente a Pedra Aguçadoura, donde vem o nome à freguesia que fica a norte de Aver-o-Mar, tinham naqueles tempos algum sortilégio, alguma magia que hoje se desconhece.

Sem comentários: