segunda-feira, 21 de junho de 2010

O P.e Leopoldino Mateus

Vou hoje falar dum padre poveiro, o P.e Leopoldino Mateus. Foi um homem que esteve presente em momentos relevantes para a sua terra.
O P.e Leopoldino nasceu na Lapa, próximo do castelo, de família muito humilde, em 7 de Janeiro de 1879 e aí morreu em 1966.
Celebrou a sua primeira missa na Igreja Paroquial da Póvoa no dia 28 de Setembro de 1901. No dia 1 de Janeiro de 1902, entrou para capelão do Senhor dos Navegantes, nas Caxinas, até Outubro de 1906, em que foi admitido como capelão da Confraria das Almas, de novo na Póvoa.
A 8 de Agosto de 1908, foi nomeado coadjutor do pároco poveiro, lugar que desempenhou com zelo e actividade, ininterruptamente, até 1933, quando foi como pároco para Balasar.
Se há muitas coisas da biografia do P.e Leopoldino que conhecemos razoavelmente, outras há, e importantes, que conhecemos mal. Estou a pensar na sua actividade de jornalista.
Em 1929, quando fez 50 anos, escreveu-se que ele era redactor efectivo do considerado semanário local «A Voz do Crente», colaborador de «A Defesa» e do «Comércio da Póvoa de Varzim», do «Mensageiro Eucarístico» de Braga e correspondente do importante diário católico de Lisboa «As Novidades» e do semanário do Porto «A Ordem».
A Voz do Crente de 4 de Janeiro chamou-lhe “orador sagrado, ilustre e primoroso jornalista e nosso colaborador assíduo e dedicado” e acrescentava que no desempenho das funções do seu ministério, o Rev. Leopoldino Mateus, era diligente e canseiroso, desenvolvia uma actividade pasmosa e modelar. “Apesar disso nunca o tempo lhe falta para nos prestar os seus valiosos e apreciáveis serviços”.
A redacção aproveitava este ensejo para lhe tributar “o nosso agradecimento pela sua boa colaboração e prestar-lhe a nossa solidariedade jornalística contra as insinuações baixas e torpes com que alguns pretensiosos, cheios de orgulho e presunção, têm tentado ofuscar o brilho das suas primorosas crónicas, cheias sempre da mais sã doutrina”.
Isto, que é muito, não é tão esclarecedor como se desejaria. Sabe-se que era um orador requisitado, mas quase mais nada sabemos da sua oratória. Do seu jornalismo, sabemos mais, mas é pouco, se tivermos em conta o muito que escreveu. A gente vai aos jornais de então, sabe que ele dava a sua colaboração para eles, mas não encontra escritos com a sua assinatura. De facto, houve muita coisa, mesmo muita que ele não assinou.
Por exemplo, a seguir à República ele escreveu semanalmente para O Poveiro. Mas sabemos isso principalmente pelos seus adversários, pelas reacções provocadas. Mas, se vamos folhear o jornal, quase não encontramos rasto da sua presença.
Em 1925, foi secretário do Congresso Eucarístico Diocesano que decorreu aqui na Póvoa.
Desconhecem-se as razões concretas por que foi ele o escolhido para ir paroquiar Balasar, quando já tinha 54 anos e estava no auge da sua actividade jornalística. Mas para esta freguesia deve ter sido um motivo de orgulho.
Estamos hoje em crer que será ele o autor duma série de treze artigos, começados a sair logo em 1933, no A Propaganda, sobre a Santa Cruz de Balasar. O autor deles assina apenas por Z e diz-se conterrâneo e amigo do P.e Leopoldino. Quem mais haveria de ser senão ele, para conhecer tão bem o documento existente no cartório da paróquia? Depois, quando o P.e Leopoldino escreveu para o Boletim Cultural sobre o mesmo tema, não mencionou tais artigos, o que seria muito incorrecto se não fosse o autor deles.
No mesmo jornal, a partir de então, há um correspondente de Balasar muito assíduo. Não queremos logo dizer que fosse o pároco, mas supomos que o faria por estímulo do mesmo pároco e que seria balasarense Cândido Manuel dos Santos.
Havia muito a dizer sobre o P.e Leopoldino, que nalguns anos finais da vida viveu tempos de verdadeira miséria. Neste momento, passamos-lhe a palavra. Um dia, ainda em Balasar, sentindo que as forças lhe iam definhando, disse à Beata Alexandrina:
“Alexandrina, parece-me que vou deixar-vos, porque me não sinto com alento para o pesado ónus desta longa freguesia.
A doente calou-se, mas, volvidos alguns dias, antes de lhe dar o Pão da Vida, ao abeirar-me do seu leito, diz-me:
- Senhor Abade, não receie perder o vigor para deixar a freguesia; porque pedi a Nosso Senhor que eu morresse antes de V. Rev.cia nos deixar e Ele prometeu-me que sim, e a sua palavra não falta.
E assim sucedeu”.

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