Como estamos caminho do Natal, vou apresentar hoje uma muito breve introdução à leitura dos Evangelhos. E faço-o com vista a falar, na próxima vez, dum texto do Evangelho de S. Lucas.
Há uma carta de Cícero, escrita em 60 a.C., que começa assim: primum, ut opinor, euangelia. Podíamos pô-la em português assim: em primeiro lugar, segundo penso, os evangelhos. Mas os evangelhos aqui são as boas notícias. É porém esta a palavra que 100 anos mais tarde vai dar nome às narrativas da vida de Jesus Cristo, principalmente da sua vida pública, morte e ressurreição.
A primeira boa notícia do cristianismo era esta: Ele ressuscitou. Claro que a seguir vinha a pergunta: Quem é Ele?
A resposta obrigava a recuar, obrigava a contar: que fez Ele, como morreu? Mas também justifica que dois dos evangelhos canónicos não digam nada sobre a infância de Jesus: os apóstolos não a acompanharam. A questão da infância é posterior. Um evangelho parece assim que devia começar do fim para o princípio: ressurreição, vida pública, infância.
Quando foram escritos os evangelhos? Porquê? Para quem? Os evangelistas ter-se-ão isolado cada um na sua casa ou no seu escritório e redigido aí as suas narrativas?
Os evangelhos surgiram como resposta a necessidades práticas das primeiras comunidades cristãs. E surgiram quando as primeiras e mais creditadas testemunhas começavam a desaparecer. Antes, ouviam-se e repetiam-se, agora era preciso registar por escrito.
Quem foi o primeiro?
Parece que se pode dizer que o primeiro foram dois, S. Mateus e S. Marcos.
S. Mateus, que foi apóstolo, ter-se-á antecipado a reunir uma colecção de palavras de Jesus. Uma grande ideia! Ficavam registadas por escrito e registadas por uma testemunha credível. Mas isso ainda não era um evangelho como o entendemos, não era uma narrativa. Mas era um bom começo.
O primeiro a organizar uma narrativa estruturada, que contava a vida pública de Jesus, desde o seu ensino na Galileia, no Norte, até à sua morte e ressurreição, a Sul, em Jerusalém, foi um discípulo de S. Paulo e de S. Pedro, S. Marcos. Este é que é o primeiro evangelho em sentido próprio. Posteriormente, a obra de S. Mateus foi adaptada a evangelho, certamente por alguém abalizado.
Já temos assim dois evangelhos. O terceiro é o de S. Lucas, o meu preferido. S. Lucas, como S. Marcos, também não foi apóstolo; como S. Marcos foi discípulo de S. Paulo. A sua narrativa tem algumas características muito próprias. Uma delas é que não escreveu só um livro, mas dois: o evangelho e os Actos dos Apóstolos. E afirma explicitamente que se documentou com o maior cuidado. Além de responder à pergunta Quem é o Ressuscitado?, mostra também a Igreja em expansão, aquela Igreja que Jesus fundou. Como o Evangelho de S. Mateus na forma definitiva, também o de S. Lucas contém uma narrativa da infância.
S. Lucas, que era particularmente culto, abre o evangelho com um prefácio breve. É aí que escreve:
Muitos já tentaram compor a história do que aconteceu entre nós, assim como nos transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra.
Depois de acurada investigação de tudo desde o início, também a mim pareceu conveniente escrevê-la (…).
Muitos, não só portanto os evangelistas que conhecemos. Também de notar a menção das testemunhas oculares.
As primeiras comunidades cristãs floresceram nas margens do Mediterrâneo: Palestina, Síria, Ásia Menor (actual Turquia), Alexandria (Egipto), no mundo mais propriamente grego, em Roma, etc. As narrativas evangélicas de Mateus, Marcos e Lucas certamente foram em breve repetidamente copiadas.
O Evangelho de S. João esse só surge bastante mais tarde, no final do primeiro século ou princípio do segundo.
É curioso que nenhum destes evangelhos se revela inútil: o seguinte vai sempre um pouco mais além que o anterior. Por isso, as preferências de muita gente vão para o último, o de S. João. E realmente há lá páginas extraordinárias.
Há uma carta de Cícero, escrita em 60 a.C., que começa assim: primum, ut opinor, euangelia. Podíamos pô-la em português assim: em primeiro lugar, segundo penso, os evangelhos. Mas os evangelhos aqui são as boas notícias. É porém esta a palavra que 100 anos mais tarde vai dar nome às narrativas da vida de Jesus Cristo, principalmente da sua vida pública, morte e ressurreição.
A primeira boa notícia do cristianismo era esta: Ele ressuscitou. Claro que a seguir vinha a pergunta: Quem é Ele?
A resposta obrigava a recuar, obrigava a contar: que fez Ele, como morreu? Mas também justifica que dois dos evangelhos canónicos não digam nada sobre a infância de Jesus: os apóstolos não a acompanharam. A questão da infância é posterior. Um evangelho parece assim que devia começar do fim para o princípio: ressurreição, vida pública, infância.
Quando foram escritos os evangelhos? Porquê? Para quem? Os evangelistas ter-se-ão isolado cada um na sua casa ou no seu escritório e redigido aí as suas narrativas?
Os evangelhos surgiram como resposta a necessidades práticas das primeiras comunidades cristãs. E surgiram quando as primeiras e mais creditadas testemunhas começavam a desaparecer. Antes, ouviam-se e repetiam-se, agora era preciso registar por escrito.
Quem foi o primeiro?
Parece que se pode dizer que o primeiro foram dois, S. Mateus e S. Marcos.
S. Mateus, que foi apóstolo, ter-se-á antecipado a reunir uma colecção de palavras de Jesus. Uma grande ideia! Ficavam registadas por escrito e registadas por uma testemunha credível. Mas isso ainda não era um evangelho como o entendemos, não era uma narrativa. Mas era um bom começo.
O primeiro a organizar uma narrativa estruturada, que contava a vida pública de Jesus, desde o seu ensino na Galileia, no Norte, até à sua morte e ressurreição, a Sul, em Jerusalém, foi um discípulo de S. Paulo e de S. Pedro, S. Marcos. Este é que é o primeiro evangelho em sentido próprio. Posteriormente, a obra de S. Mateus foi adaptada a evangelho, certamente por alguém abalizado.
Já temos assim dois evangelhos. O terceiro é o de S. Lucas, o meu preferido. S. Lucas, como S. Marcos, também não foi apóstolo; como S. Marcos foi discípulo de S. Paulo. A sua narrativa tem algumas características muito próprias. Uma delas é que não escreveu só um livro, mas dois: o evangelho e os Actos dos Apóstolos. E afirma explicitamente que se documentou com o maior cuidado. Além de responder à pergunta Quem é o Ressuscitado?, mostra também a Igreja em expansão, aquela Igreja que Jesus fundou. Como o Evangelho de S. Mateus na forma definitiva, também o de S. Lucas contém uma narrativa da infância.
S. Lucas, que era particularmente culto, abre o evangelho com um prefácio breve. É aí que escreve:
Muitos já tentaram compor a história do que aconteceu entre nós, assim como nos transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra.
Depois de acurada investigação de tudo desde o início, também a mim pareceu conveniente escrevê-la (…).
Muitos, não só portanto os evangelistas que conhecemos. Também de notar a menção das testemunhas oculares.
As primeiras comunidades cristãs floresceram nas margens do Mediterrâneo: Palestina, Síria, Ásia Menor (actual Turquia), Alexandria (Egipto), no mundo mais propriamente grego, em Roma, etc. As narrativas evangélicas de Mateus, Marcos e Lucas certamente foram em breve repetidamente copiadas.
O Evangelho de S. João esse só surge bastante mais tarde, no final do primeiro século ou princípio do segundo.
É curioso que nenhum destes evangelhos se revela inútil: o seguinte vai sempre um pouco mais além que o anterior. Por isso, as preferências de muita gente vão para o último, o de S. João. E realmente há lá páginas extraordinárias.
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