Proponho-me falar hoje dum livro em espanhol que adquiri há poucas semanas. Foi publicado em Badajoz e o seu título reza assim: Pelay Pérez Correa. Historia y leyenda de un maestre santiaguista. É seu autor Manuel López Fernández. Pelay Pérez Correa é um tal Paio Peres Correia a que já me tenho referido. No seu século, o XIII, talvez não tenha havido nenhum homem na península, à parte algum rei ou santo, tão prestigiado como ele.
Se o autor do livro é natural da província onde os restos mortais de Paio Peres Correia estão sepultados, eu considero-me natural da terra onde ele nasceu. Paio Peres Correia é contemporâneo de Pedro Hispano, o português que foi o Papa João XXI durante alguns meses, e em parte contemporâneo também de Santo António.
Não há que lamentar que o autor do livro seja espanhol, pois Paio Peres Correia, que teve um papel relevante em Portugal, teve-o o ainda muito mais relevante em Castela.
Na Internet há uma recensão sobre esta obra, que vou passar a acompanhar com alguma liberdade.
O livro começa com um breve estudo sobre as origens da Cavalaria de Santiago para entrar rapidamente em aspectos pessoais do Mestre e na sua evolução dentro da instituição santiaguista.
Estudam-se com pormenor as suas actuações na Reconquista e mais à frente analisa-se a actuação política de Peres Correia junto de reis como Fernando III e Afonso X de Castela, Jaime I de Aragão, Afonso III de Portugal, ou para com Henrique III de Inglaterra e o imperador Balduíno de Constantinopla em assuntos relacionados com as Cruzadas. Passa-se imediatamente a conhecer a relação do Mestre com a Santa Sé, com os dirigentes da igreja peninsular e com as outras ordens militares.
Vindo aos assuntos internos da Ordem, estuda-se a expansão territorial dos santiaguistas em tempos de Peres Correia, assim como a sua faceta legisladora e povoadora, para mergulhar logo a seguir nas vicissitudes ocorridas no seio da instituição durante o governo do Mestre. No capítulo final, segue-se o rasto de D. Paio pela historiografia peninsular, impulsionado por ventos lendários mais que pelos seus êxitos temporais.
Por último acrescentam-se três apêndices: um documental, outro dedicado ao itinerário de Paio Peres Correia e o último deles para assinalar os principais comendadores e comendas da Ordem naqueles tempos.
Numa outra página também da Internet, Manuel López Fernández escreve: “O mestre Pelay Pérez Correa, como se chama nos documentos castelhanos, parece originário de Farelães, um couto próximo da cidade portuguesa de Braga”.
Acho isto muito pouco. O solar dos Correias não se chama de Farelães, mas de Fralães, não está longe de Braga, mas está mais perto de Barcelos, etc. Em vez de couto, era mais correcto falar de honra. Quanto à naturalidade do biografado, numa tese de doutoramento dever-se-ia ser um pouco mais exigente.
A capa do livro foi pensada a partir de iconografia portuguesa, em concreto, de uma pintura do MNAA a que se sobrepôs um retrato setecentista de Paio Peres Correia. A pintura, originária de Palmela, onde a Ordem de Santiago teve importante convento, representa uma suposta aparição de Nossa Senhora a Paio Peres Correia.
Em Paio Pires, no Seixal, ergueram uma estátua em tamanho um pouco mais que o natural, inspirada no retrato setecentista de Paio Peres Correia que agora mencionei. Dizem lá que Paio Pires é de facto Paio Peres Correia. Também em Setúbal há um monumento recente ao Mestre de Santiago.
A iconografia de Paio Peres Correia é mais abundante na Espanha. Na Praça Maior de Salamanca há um vistoso medalhão a representá-lo. Em Leão, na fachada dum convento, há um outro. Em Tentudia, onde a lenda colocou um milagre de dimensão bíblica, conseguido a pedido de Paio Peres Correia, num mosteiro desactivado, há um painel de azulejo quinhentista que o representa. Mas conhecem-se outras representações icónicas.
Hoje em dia cresce o interesse por esta figura medieval, motivado pelas jornadas sobre Ordens Militares que se têm repetido (ou pelo menos repetiram) em Alcácer do Sal, onde Paio Peres Correia iniciou a sua vida de cavaleiro de Santiago.
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