Há algumas semanas, houve na Praça do Almada a reconstituição dum ambiente medieval. Podia ter sido uma iniciativa muito educativa, mas se calhar não o foi tanto. Eu não vi tudo.
Na sequência desse evento, vou hoje falar um pouco do que foi ou terá sido Idade Média aqui nas nossas vizinhanças.
É sabido que os livros de história dão importância sobretudo aos feitos mais marcantes, que raramente ocorreram na província. Por isso, a história local tem o papel importante de fornecer às populações a informação do que se foi passando nos seus lugares, nas suas freguesias, nas suas vilas.
A Póvoa era então uma pequena vila simultaneamente piscatória e rural. Vila do Conde também tinha uma dimensão rural, mas o rio, com o seu porto natural, talvez lhe desse uma dimensão mais urbana. A população destas vilas não ultrapassaria umas escassas centenas de pessoas.
As paróquias rurais eram quase as mesmas de hoje. Não seriam muitos os casos em que os seus habitantes ultrapassassem uma centena. As suas igrejas eram naturalmente muito pequenas, a condizer com as exigências demográficas. Lembrem-se as igrejas velhas de Amorim ou a de Rio Mau. A de Santa Clara, que não era paroquial, deve ter sido pensada também para compensar a pequenez da paroquial, que ficava ali ao pé.
Com as suas festividades, as igrejas proporcionavam alguns dos momentos que mais sobressaíam na rotina do viver do campo.
As casas seriam também acanhadas, as mais das vezes só de rés-do-chão, com paredes de pedras toscas e cobertas a colmo. Haveria sempre uma fonte próxima, pois na altura o poço deveria ser coisa rara.
Uma curiosidade aldeã desses tempos eram as vilas rústicas, que eram casas mais abastadas. Numa freguesia grande, podia haver umas cinco ou mais. Algumas vinham de tempos muito distantes, romanos, outras de período mais próximo, gótico.
A rede viária devia ser miserável: só caminhos velhos e sinuosos, com pisos irregulares, muito fracos; no Inverno, tornar-se-iam quase intransitáveis.
Falar de caminhos, leva a falar dos almocreves, aqueles homens que, nas suas bestas, levavam de terra em terra, de feira em feira, artigos que não podiam ser produzidos localmente, como sal, peixe, tecidos e objectos menos comuns.
Sobre os rios Este e Ave construíram-se pontes, a Ponte d’Este e a Ponte de d’Ave ou de D. Sameiro, mas também a Ponte d’Arcos e a Ponte do Vau, em Balasar. Antes dessa construção e em muitos lugares mesmo depois, havia nos rios os chamados portos, que indicariam apenas a existência dum barquito para ajudar as travessias especialmente no tempo invernoso.
Na flora aldeã, havia algumas diferenças notórias relativamente aos tempos actuais. Por um lado, a área inculta seria muito maior, por outro, sabemos que não se via por cá o eucalipto e mesmo o pinheiro seria muito menos comum do que hoje. O carvalho, que era árvore autóctone, devia abundar. Nos campos de cultivo não apareciam os milheirais de hoje, nem as batatas… Mas podia haver qualquer coisa a que chamavam vinhas.
Quanto à fauna, já não seria possível encontrar ursos, existentes noutras eras, mas veados, javalis, texugos e raposas seriam relativamente comuns. O lobo também não andaria por longe.
Pelo ar, voariam mais aves que actualmente: talvez ainda a águia ou até o abutre; o milhafre devia ser comum, como o corvo, o mocho, etc.
A fauna piscícola dos rios seria mais diversificada e abundante.
Na próxima vez espero continuar este tema, porque agora vou ler uma cantiga de amigo, que vem destes tempos.
Mia madre velida,
Vou-m’a la bailia
Do amor.
Mia madre loada,
Vou-m’a la bailada
Do amor.
Vou-m’a la bailia,
Que fazem en vila
Do amor.
[Vou-m’a la bailada,
Que fazen en casa
Do amor].
Que fazen en vila
Do que eu ben queria,
Do amor.
Que fazen en casa
Do que eu muit’amava,
Do amor.
Do que eu ben queria,
Chamar-m’an garrida
Do amor.
Do que eu muit’amava,
Chamar-m’an jurada
Do amor.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
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