Regresso hoje ao tema das igrejas pequeninas e antigas. Às três de que já falei, Santagões, Ferreiró e Parada, acrescento agora mais três: Formariz, Rio Mau e Laundos.
Aparentemente, construíram-se nesses tempos recuados dois tipos de igrejas: umas, a maior parte, muito simples, constituídas apenas por um pequeno edifício quadrangular, utilitário, porventura coberto a colmo, e outras com manifesto investimento artístico, como foi o caso de Rio Mau, Amorim e Rates, talvez a Junqueira.
As guerras, a princípio, e as sucessivas pestes limitaram o crescimento demográfico, tornando desnecessárias as ampliações. Mas é de supor que, no século XVI, elas se tenham iniciado, a ponto de não ter chegado até nós nenhuma ou quase nenhuma nas suas dimensões originais. Apesar de tudo, há algumas que são tão pequeninas que não devem estar muito longe do que foi o seu início.
A antiga igreja paroquial de Formariz é muito pequena e, visto a freguesia ter sido anexada já há séculos a Touguinha (antes de passar para Vila do Conde), terá parado no tempo. Possui algumas raridades, desde a imagem medieval do padroeiro à cruz processional e pia baptismal quinhentistas. Não tem campanário propriamente dito, apenas um sinozinho.
No concelho da Póvoa, interessou-me particularmente a igreja paroquial de Laundos, que não conhecia. Sofreu certamente ampliações relativamente à de origem, mas continua pequenina e muito simples. No interior, talvez há uns cem anos, substituíram uma talha antiga pela actual. A sua torre é um caso raro. É parecida com a de Rates, mas diferente ainda assim, pois não se encosta a nada. Segue um modelo que há-de ter sido muito comum e que aos poucos foi desaparecendo. O Mons. Manuel Amorim chama-lhe “um típico campanário setecentista”; remonta todavia apenas ao século seguinte, como escreveu um recente pároco local.
A igreja velha de Rio Mau, que foi ampliada no séc. XIV, ocupa o mesmo lugar e não deve ser muito diferente da de origem. Mas essa era uma igreja de mosteiro, por isso, mais artística. Notáveis algumas invulgares figuras em relevo nos tímpanos das portas e as arcas tumulares medievais no adro. É curiosa a torre, muito recente, sobre a porta do cemitério.
Deixando agora as igrejas a que me referi atrás, a velha de Amorim tem uma história bem particular, bem se sabe, pois sofreu reconstrução em finais do séc. XVI, para o estilo maneirista. Mas como sobrevive lá uma cachorrada românica, ela deve dar uma indicação bastante precisa sobre o comprimento do pequeno templo original.
Esta igreja tem três naves, separadas por colunas; a sua talha é a mais antiga das vizinhanças. Entre outras curiosidades, há lá uma pintura de S. Tiago, de um pintor poveiro que assinou apenas por Lino; datou o seu trabalho de 1872. Quem quer que ele fosse, devia-se valorizar o homem, procurar outras eventuais produções suas. A torre é quadrangular, ao jeito moderno.
Há notícia de outras igrejas antigas que foram demolidas. O caso de Balasar é muito especial, já que houve na freguesia várias igrejas que hoje não existem mais: primeiro houve as de Gresufes e Lousadelo, que inteiramente despareceram; depois houve a do Casal, que também coexistiu com a de Gresufes. No século XVI, foi construída a do Matinho, que foi radicalmente alterada no séc. XVIII, sendo demolida aquando da construção da actual. A do Casal, que era medieval, foi demolida apenas em 1919. Devia ser muito pequena, pois as pessoas referem-se a ela apenas como capela. Se se conservasse, podia ser um testemunho sobre as dimensões das igrejas antigas.
Na Póvoa desapareceu a antiga ermida gótica e a anterior igreja da Misericórdia; em Vila do Conde foi demolida no século XVI a matriz primitiva. Uma outra que se sabe que foi demolida foi a de Touguinhó. No Outeiro Maior conserva-se ainda a anterior, muito antiga, mas com certeza repetidamente modificada e ampliada.
Quando a gente vê estas igrejas tão singelas e antigas e pensa que os caminhos de então eram veredas miseráveis, com troços intransitáveis em parte do inverno, que a área cultivada do mundo rural era muito mais pequena que a actual, percebe como a vida terá então sido de penosa subsistência, percebe melhor o esforço das comunidades de então para manterem os seus pequenos templos.
Verdadeiramente, isto leva-nos para um mundo, em relação ao qual sabemos muito pouco, só coisas vagas.