Tanto quanto sei, a Lenda de S. Pedro de Rates é a grande lenda do concelho. No de Barcelos há pelo menos duas belas e conhecidas lendas, a do Galo e a do Monge e o Passarinho, no de Vila do Conde há a da Abadessa Berengária e a da Menina do Merendeiro. No da Póvoa, esta será a mais célebre.
Quando eu trabalhei na Alemanha, há quase 40 anos, vi numa casa um galo de Barcelos. Isto é, embora nascido da lenda, o galo tornou-se quase um símbolo de Portugal. Uma lenda pode ser coisa muito interessante.
Rates é uma terra muito antiga e que portanto a lenda pode mergulhar raízes nessa remotíssima antiguidade.
Mas os estudiosos concluíram que não é possível estabelecer de momento nenhum facto histórico que se possa assinalar como estando na origem da lenda: não há qualquer documento escrito fidedigno, não há nenhuma memória arqueológica que ateste a favor do pretenso santo.
Postas as coisas assim, fica-se no campo da pura lenda.
Quando as pessoas recontam esta lenda, referem três espaços: o de Rates, o de Braga e o do monte de S. Félix. De facto há um outro, a Fonte de S. Pedro, em Balasar. Pode-se dizer que ele tem um papel mínimo na história, e é verdade. Mas quando se estudam casos como este, à partida, a atenção não pode desinteressar-se de pormenores.
Veja-se o que se escreveu cerca de 1700, isto é, há 300 anos sobre a Fonte balasarense de S. Pedro:
“Na aldeia do Casal está a fonte em que São Pedro de Rates estava de joelhos, bebendo, quando os tiranos vinham atrás dele, de Braga, para o matarem, e foi Deus servido de que o não vissem, estando patente à vista. Dizem que duas covinhas que tem são de seus santos joelhos. Vêm a esta fonte muitos enfermos de maleitas e, bebendo dela, voltam livres do achaque”.
Em 1736 as Memórias Paroquiais dão notícia da fonte nestes termos:
“Bebem os moradores duma fonte a que dão o nome de S. Pedro de Rates: há aqui uma pedra com uma pegada estampada, a qual dizem ser do Santo de que a fonte tomou o nome; e, tirando a pedra em certa ocasião, dizem secara de todo e não lançara mais água senão quando se lhe tornou a pôr. Tem o povo grande fé com esta água e dizem que bebendo-a tira as maleitas, de que há repetidas experiências”.
Em 1758, escreveu-se: “Há nesta freguesia, no lugar do Casal, uma celebrada fonte, chamada de S. Pedro, cuja água é milagrosa para os doentes de sezões e terçãs, como se experimenta bebendo-a com fé e devoção ao mesmo Apóstolo”.
Está-se no campo da pura lenda. Mas lenda por lenda, a versão do P.e Carvalho da Costa era mais maravilhosa e completa.
Cavidades em pedras com desenhos vagamente semelhantes a partes do corpo humano impressionaram as mentes populares, gerando lendas. Curioso é que estas sofreram por vezes adaptações com as mudanças de pensamento religioso. No caso da Fonte de S. Pedro de Rates também é possível que tenha havido adaptação de algo anterior, o que de modo nenhuma a desvalorizaria, bem ao contrário.
É curioso aliás que com o S. Félix de Laundos também houve uma metamorfose: afinal o S. Félix eremita local é apenas um conhecido mártir, natural de Gerona, na espanha. O próprio S. Pedro de Rates é também um rosto do Apóstolo S. Pedro…
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
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1 comentário:
Prof. José Ferreira como posso entrar em contato contigo?
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